domingo, 24 de maio de 2009

Sua excelência, o “Espinheiro-de-casca-branca”.


No reino dos vegetais,
Conta o velho testamento,
Que à margem dos animais,
Na floresta houve um momento
Que as arvores maiorais
Promoveram um grande evento.

Eleger um novo rei
As árvores anunciaram,
E o projeto virou lei.
As plantas se prepararam,
Os detalhes eu não sei,
E as campanhas começaram.

Convidaram a Oliveira:
- Sobre nós venha reinar!
- Ora, deixe de besteira -
Respondeu sem vacilar:
- Ouça bem, minha parceira,
Pois vou ter que recusar.

Para Deus glorificar
Minha essência é consumida,
Como posso renunciar
A função da minha vida
Pra vocês ir comandar,
Se pra Deus sou bem servida?

Intimaram a Figueira:
- Vem governar sobre nós?
Mas ela, sem brincadeira,
Engrossando bem a voz:
- Estou fora, companheira,
Dessa casca de arriós.

Eu não vou renunciar
Minha essência que é doçura,
Mesmo sendo pra reinar
Com coragem, com bravura.
Só me resta rejeitar
E esquivar dessa loucura.

Mas as árvores teimaram
Na eleição da realeza.
As florestas percorreram,
Sem cansaço e sem moleza,
Toda planta convidaram
Se não Rei, então princesa.

Mas um sopro de esperança
Na Videira floresceu:
- Vem reinar com temperança,
Que o poder será só seu! -
E a Videira, sem lambança,
Descartou o caduceu.

O governo que merece,
Cada povo tem o seu.
Se o certo não oferece,
Aparece um fariseu,
E o povão é quem padece
Nas garras de um pelebreu

Pois aconteceu no céu
Que a terça parte dos anjos
Arrastou o cetro ao léu
E o comando dos arcanjos
Sofreu imenso labéu,
Pondo a Deus em desarranjos.

A ambição é corrosiva,
É a natureza do Diabo,
Que na sua guerra impulsiva,
Só com a ponta do rabo,
Uma parte relativa
Dos anjos ele deu cabo.

E as arvores sem alteza,
Sem comando e direção,
Imolavam a realeza,
Dos votos abrindo mão,
Se entregando na incerteza
Aos cuidados de um mandão.

O espinheiro-casca-branca
- O terror de todas ervas,
Por temerem sua carranca –
Recebeu-as sem reservas:
- Aceito e não boto banca,
Mas serão as minhas servas.

Se de fato serei rei,
Fiquem sobre o meu abrigo,
Do contrário queimarei
Quem se indispuser comigo.
Dessa forma reinarei,
Sem dar folga ao inimigo.


Meu comando não tem fim,
Complacência ou abano.
Do fogo que sai de mim,
Até os cedros do Líbano
Queimarão como capim,
E chorarão o seu ládano.

Meus amigos companheiros,
Lá no congresso é igual,
Temos muitos espinheiros,
Vejam tudo no jornal.
Éum bando de embusteiros
Que se passa por legal.

Mas se eu não fui votar,
Exercer o meu direito,
Como posso reclamar,
Se votaram num sujeito
Que só sabe arrebanhar,
E eu deixei que fosse eleito?

Dessa forma os vegetais,
Prisioneiros e oprimidos,
Acolheram o castigo,
Por não serem destemidos,
Exercendo os seus direitos,
Não votando nos bandidos.

Companheiros ouçam bem
O que agora vou dizer.
Logo chega a eleição.
A tua voz tem que valer,
Não seja igual à avestruz
Que se abaixa pra esconder.

Todo aquele incompetente,
Que só sabe lamentar,
Está sempre sobre o muro,
Como um gato a espreitar,
Nunca tem grandes idéias
A não ser sacos puxar.

A história do espinheiro
Serve a todos de espelho.
Companheiro brasileiro,
Ouça bem o meu conselho,
Nunca eleja um embusteiro
Pra roubar o seu celeiro,
Como amigo, eu aconselho.
Josué
Foto: (não é de um espinheiro.)

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