quarta-feira, 8 de abril de 2020

COVID-19 - O Exterminador do presente


Olhando pela fresta da janela no isolamento social - Josué do Cordel
A CULPA NÃO É DE DEUS
Há reflexões possíveis e interessantes na mensagem do temido exterminador do presente, o coronavírus (COVID-19). Teologicamente não tenho nada a dizer, mesmo porque, não é meu estilo culpar Deus por nada. Quem joga pedras para o alto não é Deus, é o próprio ser humano cabeçudo. O que fazemos, com ou esse mundo, é culpa, única e exclusivamente nossa, da mesma forma, também, as soluções devem ser de responsabilidade, nossa.
No universo podemos ter bilhões de planetas iguais ou melhores que esse ínfimo planeta terra. Responsabilizar Deus pela existência dos seres humanos, única e exclusivamente no menor dos planetas me parece tolice. Culpá-lo por todo e qualquer flagelo infligido aos seres humanos, seria tolice maior. Esse vírus deve ser oriundo da família dos vírus da gripe e que a medida que tentou sobreviver lutando contra as armas da tecnologia humana, drogas, antibióticos, etc... ele se potencializou e se transformou em CONVID’S 19, 20, ... Se isso não for verdadeiro então vamos pensar nos bilhões de planetas que caso sejam habitados, obviamente, esses seres são, extremamente, superiores aos terráqueos e possivelmente podem estar controlando-os, orientando-os coercivamente a seguirem o rumo certo da evolução espiritual. Espiritual porque, a evolução material nada tem a ver com o aperfeiçoamento do ser humano. Se os Espanhóis, os Portugueses, os Ingleses e outros fossem evoluídos espiritualmente, por certo não teriam exterminado e ou escravizado os índios. Ao contrário do que fizeram, teriam oferecido, apenas o incentivo a evolução.
Seja lá qual for o culpado pelo coronavírus, racionalmente não se pode afirmar que o Criador – Deus – a onipotência, usaria de tais artifícios para corrigir a perfeição da sua própria criação. Além de não ser concebido a ideia da perfeição usar de tais ações tão imperfeitas, seria o mesmo que admitir que o Deus perfeito criou a sua criatura humana de forma imperfeita porque não teve onipotência para criá-la perfeita, ou que, mesmo agora, também não tem esse poder para solucionar a questão do convid-19, pois do contrário, não se cortaria braços para salvar o corpo.
Então a culpa é da evolução? Provavelmente. Evolução espiritual. Se somos espíritos vivos em corpos materiais, é certo que existe o mundo espiritual. O mundo dos espíritos ou dos anjos. Lá está a resposta ou o mistério.
REFLEXÕES DO PODER: dos poderosos ou dos invisíveis?
Mas há muito que se refletir com a presença desse coronavírus no seio da humanidade. O poder e a arrogância têm gritado mais alto na luta da sobrevivência humana. Tem gerado as guerras, violências, misérias, estimulando o isolamento social e natural cada vez mais entre os seres humanos. No entanto, ... não mais que de repente ... um ser vivo, não espiritual, tão ínfimo que a gente nem consegue vê-lo a olho nú, um ser surgido do nada ou um velho vírus potencializado pela evolução científica do ser humano, bastou para que toda essa deidade humana, arrogância humana, todos esses seres “autoconsiderados” semideuses, tremessem nas bases, se recolhessem nas suas devidas insignificâncias; se ocultassem em suas fortalezas materiais, dentro de suas coroas de ouro, isolados, trêmulos e fragilizados. Longe do calor humano: sem sorrisos, sem abraços, ...
COVID-19 – Mensageiro anti-herói?
O vírus responsável pelo Covid-19 é apontado como uma variação da família coronavírus. Os primeiros foram identificados em meados da década de 1960, de acordo com o Ministério da Saúde. (Por G1 - 27/02/2020).
Esse mensageiro – anti-herói – está provando que nem todo o poderio das nações, nem todo o ouro acumulado na inércia financeira oculta dos cofres bancários, podem se transformar em uma arma poderosa que o exterminaria, sem que antes ele possa cumprir a sua missão. Vencê-lo, somente com o vencimento do seu próprio prazo de validade. Ele não veio para ficar bastante tempo. Apenas o tempo suficiente para dar o seu alerta independente de classes: social, política ou econômica. Alerta para os terráqueos, os humanos, para os semideuses, ... para nós.
O SER HUMANO É UM SER, ESSENCIALMENTE SOCIAL
“Nenhum homem é uma ilha”. Esta famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. https://www.pensador.com/frase/MTU2NjkzNA/
Estamos nos conscientizando do fato de que precisamos da proximidade humana. Precisamos “um-do-outro”. Que realmente o homem é, essencialmente, um ser social. Hoje, estamos tentando sobreviver isolados socialmente por imposição de um ser invisível. Pessoas que sentiam prazer no isolamento não estão mais contentes, simplesmente por vivenciar um isolamento social imperativo. Estar isolado por opção é uma coisa, mas saber que é obrigatório é outra. Pesa saber que esse isolamento é uma questão de sobrevivência, não só de si próprio, mas, talvez, de toda a humanidade.
POVO % "CEM POR CENTO" EDUCADO É POVO % "CEM POR CENTO" SEM POLÍCIA, SEM CORRUPÇÃO E SEM VIOLÊNCIA.
De esclarecer que, hoje estamos dependentes da educação e cultura do nosso povo para compreendermos e enfrentarmos essa luta de sobrevivência com responsabilidade; que estamos dependentes da ciência para que encontre a curto prazo o antídoto da nossa liberdade, da salvação da nossa vida nesse planeta. Educação e ciência são as bases fundamentais para a sobrevivência e civilização de um povo diante desse exterminador de vidas. Educação e ciência deveria ser a primazia dos investimentos públicos. Professores e cientistas deveriam ganhar mais que qualquer ser vivo, político ou não, em uma nação. Povo cem por cento educado é povo cem por cento sem polícia, sem corrupção e sem violência.
NÃO EXISTE HUMANIDADE SEM O AMOR AO PRÓXIMO.
Também parece lógico que, um ser humano único num mundo, não sobrevive. Não evolui porque não se aprende nada espiritualmente com as pedras, com as plantas, com os animais, com os insetos, com o ouro, pois só se desenvolve raciocínios com a interação humana. É inviável a existência de um ser humano sem a existência do seu próximo. A conclusão é que se cada um cuidar de si, estará cuidando do coletivo. O coletivo é que garante a vida individual. Valerá então a máxima: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Amando a ti mesmo, estarás amando e protegendo a humanidade.
Enquanto estamos isolados fechando as portas e janelas da nossa casa no intuito de cruzarmos as noites longas e escuras do inferno, devemos contar histórias para nossos filhos dormirem, para eles não desperdiçarem um tempo precioso que vai passar abarrotado de favos de sabedoria. Devemos deitar e rolar no chão com nossos filhos, no “agora”, sem o rigor do relógio, sem passado e sem futuro. Vamos descobrir e reconhecer cada pintinha escura nas peles dos nossos filhos, vamos sentir o frescor de cada cascata de seus sorrisos felizes e sinceros. Vamos vivenciar cada alegria ou cada eventual lágrima nos olhos deles e vamos limpá-la. Com certeza vamos preencher aquele vazio interior que cresce no peito dos adolescentes, cujos pais não tiveram tempo para participar de cada passo dos seus filhos porque tiveram que levantar com escuro para trabalhar e voltar para casa com o mesmo escuro. São esses os filhos que estão em vantagem na estatística dos dependentes de droga, do álcool, da violência, inclusive contra os próprios pais, como é evidente na mídia. Ao contrário, os filhos que cresceram brincando de cavalinho, seguros e confiantes no cangote dos seus pais, ou que dormiram embalados e sonhando com os heróis dos contos, das histórias, dos cordéis contados pelos pais e avós em seus quartos, esses filhos, na adolescência, terão mais sorte. Não sentirão tão carentes ao ponto de tentarem aplacar a dor do vazio com as drogas e as bebidas, não usarão de violência para chamar a atenção dos pais. Não. Para esses, antes de procederem mal, a proteção se apresentará aflorando as boas lembranças paternas. Sentirão inundados de saudades, de amor e de admiração pelos seus pais. Eu mesmo, sou um poeta e editor de livros porque ouvi uma dessas histórias de cordel contada, a luz de lamparina, pela minha avó que não sabia ler, mas que tinha boa audição para ouvir as histórias que lhes contavam no sertão da Bahia. O vazio do meu peito sempre esteve repleto de literatura, de boas lembranças, de momentos felizes com a família e de belas histórias contadas pelos meus pais.
Ah! O coronavírus!
Pois é, não há mal que não tenha o bem como sua face contrária. É a lei da dualidade de Lao Tseé.
Quando cada um dos nossos semelhantes vai embora, é um pedacinho interno do nosso passado que se transforma em uma peça de mosaico, como uma peça de um jogo de quebra cabeça.
... a campainha tocou, deixe-me olhar pela fresta da janela.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O CORDEL SEMPRE FOI NOSSO.


Alguns dizem que o Cordel veio de Portugal dentro das malas dos colonizadores. Outros dizem que o Cordel veio da França ou de outros países ibéricos. Tem até cordelista que prefere mudar a origem do nosso cordel, simplesmente para contrariar o seu adversário mal querido. Outros, por desconhecimento, defensores dessa afirmação, de que o cordel veio de Portugal, insistem em não pesquisar seriamente e conhecer a verdade para não contrariar o seu próprio ego. Imparcialidade nesse país, quando se refere a coisa séria é um sério problema. 
Outro fato habitual dos brasileiros é que, o que é bom demais, não pode ter sido criado por um brasileiro. Nas escolas dos EUA, os alunos aprendem que Alberto Santos Dumont não é o pai da aviação.

“ 'Pai da aviação', Santos Dumont continua sem ser reconhecido por americanos. A abertura da Olimpíada trouxe de volta a polêmica sobre o não reconhecimento internacional (especialmente nos EUA) de Santos Dumont como inventor do avião. (7 de ago de 2016) ...”
“A tese central de pesquisadores do tema nos EUA é que Santos Dumont foi muito importante para o surgimento de tecnologias de voo, mas que o 14-bis não era o que se pode chamar avião, por mais que tenha voado....”https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/…/pai-da-avia…/…
“O pesquisador alega ainda que a falta de reconhecimento entre os americanos se dá porque "os americanos são bem ignorantes sobre informações do resto do mundo, o que é deprimente". “Segundo ele, a população do país não reconhecer o nome de Santos-Dumont não quer dizer muita coisa e "qualquer pessoa que saiba mesmo que pouco sobre história da aviação, o nome dele sem dúvida é conhecido...” https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/…/pai-da-avia…/…
O 14 bis não é um avião só porque não foi um americano quem inventou? Não me causaria estranheza se eu souber que muitos brasileiros concordam com eles.
- Para o político brasileiro, empregar os parentes em cargos públicos não se trata de nepotismo.
- Os dados científicos sobre a estatística da devastação da Amazônia não são verdadeiros porque vai contra os interesses de alguém ou de um grupo.
- Os agrotóxicos agressivos não matam a nossa fauna e nem provocam sérias doenças aos humanos. 
A maioria do povo brasileiro apoia, concorda ou se cala - como a boiada da solidão de Drummond de Andrade, - que no fundo, calar é a mesma coisa que concordar. A verdade é uma questão de conveniência. A verdade só é verdadeira se estiver em harmonia com os interesses pessoais, ou sujeita aos caprichos do ego. 



Desde Adão e Eva, ou antes, o ser humano já contava histórias. A bíblia foi escrita em versículos (histórias, relatos, contos e poemas, posteriormente considerados sagrados). Versos ou versículos, apropriados para facilitar a guardar dos textos na memória pois, a escrita era complicada, o papel, os livros não existiam ou eram raros, mesmo os pergaminhos não haviam em abundância ou não eram conhecidos, ainda. Versos de preferência rimados, eram mais fácil de serem assimilados e a métrica cumpria a função de facilitar a cantoria com a lira. Cantar os versos ou poemas é mais um recurso que facilitava o processo de decorar e lembrar para contar cantando.

“...A literatura nasceu oral e foi assim durante milênios. Quando a Ilíada e a Odisseia foram transpostas pela primeira vez para o papel, já tinham séculos de idade”, afirma o escritor Bráulio Tavares.
Desde os primórdios da existência humana já havia os poetas, os cordelistas, repentistas ou simplesmente poetas conhecidos com outros nomes como profetas, sacerdotes porque não se sabia o que era um poeta, mas algum tempo a frente, essas pessoas eram chamadas de Aedos.
Sinônimo de Aedo: cantor, menestrel, poeta e trovador.
“Os Aedos eram poetas-cantadores que percorriam a Grécia cantando um repertório composto de lendas e tradições populares. O som de liras ou cítaras acompanhava-os.”
“Aedo: Poeta grego da época primitiva, que cantava ou recitava com acompanhamento da lira: Homero era um Aedo.”
“Aedos: são contadores de histórias itinerantes, que se valem dessa ferramenta para preservar a sabedoria de um povo – ou diversos povos, pois eles aprendem novas lendas a cada comunidade por onde passam”.
“Aedos: retiram sua sabedoria de uma mistura de folclore, provérbios, alegorias e lendas, temperando com sua própria criatividade. Por fim, eles compartilham de sua sabedoria ao contar suas histórias para aqueles que as querem ouvir: muitas dessas histórias são exemplares, e inspiram feitos grandiosos mesmo no menor dos homens.”


Literatura de cego, os cordéis Portugueses
“... No século XVIII, já era comum entre os portugueses a expressão literatura de cego, por causa da lei promulgada por Dom João V, em 1789, permitindo à Irmandade dos Homens Cegos de Lisboa negociar com esse tipo de publicação.”
Os cegos penduravam publicações, literárias, folhas escritas, poesias, receitas de bolos, rezas, feitiços e outras histórias, em um cordão (cordel em Portugal) amarrado ao seu corpo para a papelada não se perder. Histórias que cruzavam os oceanos de boca em boca eram contadas ou mesmo histórias criadas, escritas nessas folhas soltas ou publicações penduradas. Segundo consta, a maioria dessas escritas eram em prosa ou em alguma forma de verso, mas nessa miscelânea literária de cordão não havia nenhum folheto com a formatação do nosso Cordel. Essa literatura de cego, com toda essa papelada pendurada no cordel em Portugal, passou a ser conhecida como: “Literatura de cordel”.
Histórias se contam desde o primeiro casal da humanidade, de forma oral e mais tarde, também de forma escrita e ou lida. O nosso Cordel, a princípio, era conhecido como “romance” ou “folheto” e de repente virou Cordel, ou estranhamente, Literatura de Cordel. Talvez o Cordel, por ter genitores muito simples, não poderia estar junto aos seus irmãos do mesmo gênero na literatura oficial. O preconceito criou uma segunda literatura brasileira. Uma literatura marginal. De um lado a literatura, dita, erudita ou oficial e de outro a literatura de Cordel. Aquela que sendo migrante das caatingas, ou aquela que de forma encantada ou mágica ensinava literatura aos excluídos dos bancos das escolas públicas, aos semianalfabetos e muito mais aos alfabetizados. Tudo isso de forma democrática. A magia da literatura dos versos contadores de causos pulverizava sementes literárias no solo fértil da imaginação de todos os sedentos de conhecimento e de aprendizagem, gratuitamente e sem qualquer preconceito. A natureza do nosso Cordel era a própria essência da alma do nosso povo. O Cordel apesar de ser um gênero literário, posso me arriscar a dizer que tem, em sua alma, a mesma sina da maioria dos nordestinos. O Cordel migrou para o norte, sul, leste e oeste, peregrinou e sobreviveu trilhando caminhos a margem da literatura oficial. Jamais teve permissão para adentrar as páginas de uma antologia da literatura brasileira, ao lado dos seus irmãos: O soneto e a trova.
O cordelista é um esterno mortal para os imortais. 
Os órgãos públicos e a mídia quando procuram os poetas cordelistas, oferecem como pagamento a moeda: “$visibilidade$” em troca de apresentações, manifestações literárias, declamações e palestras sobre a tal “literatura de cordel”, a marginal nordestina ou coisa semelhante.

O poeta cordelista vive de brisa! Porque precisaria de dinheiro?
A novela da grande mídia usa o nome de Cordel e gera renda, mas na verdade não se vê um cordelista que ganhou alguma coisa. Você também não vê nada de Cordel no conteúdo da novela, mas mesmo assim, o uso da palavra Cordel gera renda na mídia. Até tem o: “vale a pena ver de novo” para gerar mais renda!
O Cordel tem mais de um século, consta até no currículo escolar, tem editoras, poetas cordelistas, folhetos e livros de todas as formas publicados e ainda querem pagar os serviços de um Cordelista com a moeda da visibilidade. Nada disso aconteceu com os poetas do soneto e ou da trova. O preconceito aparece até na origem do nosso Cordel.
O primeiro Cordel, criado, formatado, lido e publicado em Recife por Leandro Gomes de Barros, nascido na Paraíba, não é brasileiro?
“Com curadoria de Alexei Bueno, a mostra exibe exemplares do acervo do professor Arnaldo Saraiva, catedrático de Literatura da Universidade do Porto e sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras. “
“É uma das maiores coleções privadas dedicadas ao cordel. Ao todo, são 4.500 exemplares brasileiros e 870 portugueses – lembrando que a produção do Brasil ainda segue, enquanto a de Portugal terminou nos anos 1960.”
“Os cordéis portugueses hoje têm status de raridade, porque desapareceram com o progresso, enquanto os brasileiros se espalharam pelo País inteiro”, afirma Bueno. “Ao ver os exemplares de lá, fica imediatamente clara a influência na produção daqui, inclusive graficamente. A diferença é que, enquanto o cordel brasileiro é feito em poesia, o português também tem prosa e textos dramatúrgicos”.


A única notícia de cordéis portugueses que parece existir se refere ao texto acima. Toda forma literária de contar histórias na época da “Literatura de cego” ´(Literatura de cordão – cordel), é chamada de cordel: publicações em prosa na maioria, poemas, versos sem formas fixa de estrofes. Nada disso é o nosso cordel brasileiro, isso é ou foi o cordel de Portugal, o nosso cordel tem regras próprias e é aquele que se chamava “romance” ou “Folheto”, tanto que os poetas eram conhecidos como folheteiros – vendedores de folhetos de romances brasileiro.
Algumas histórias vieram de Portugal? 
Sim. Muitas histórias que vieram do oriente cruzando os mares, passaram por Portugal e chegaram até o Brasil dentro das malas dos colonizadores ou foram contadas de boca em boca. Muitas foram adaptadas para os versos do nosso antigo romance. Ainda, assim, essas histórias contadas ou escritas em prosa, adaptadas para o cordel, podem influenciar, mas não mudar a origem do nosso cordel. O nosso antigo romance só tem, por algum acidente, o mesmo nome do cordel de Portugal – aquela “literatura de cegos” – Cordel Português. O Cordel brasileiro é uma única forma poética fixa de contar histórias.

“... Segundo Luís da Câmara Cascudo, no livro Vaqueiros e cantadores (Porto Alegre: Globo, 1939. p.16) os folhetos foram introduzidos no Brasil pelo cantador Silvino Pirauá de Lima e depois pela dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista. No início da publicação da literatura de cordel no País, muitos autores de folhetos eram também cantadores, que improvisavam versos, viajando pelas fazendas, vilarejos e cidades pequenas do sertão. Com a criação de imprensas particulares em casas e barracas de poetas, mudou o sistema de divulgação. O autor do folheto podia ficar num mesmo lugar a maior parte do tempo, porque suas obras eram vendidas por folheteiros ou revendedores empregados por ele.”
Silvino Pirauá de Lima foi o primeiro a adaptar um romance em prosa para os versos. Até ai nada havia acontecido com o surgimento da ideia do nosso cordel, romance em verso com regras definidas, impresso num folheto para ser lido e ou vendido. Não havia ainda a figura do Poeta Folheteiro, Cordelista.
Leandro Gomes de Barros, que desde cedo, já era órfão, ainda jovem, provavelmente fugiu das graças da igreja do seu tio padre, migrando para o Recife. Levava uma vida solitária, com certeza, com sérias dificuldades para sobreviver. 
Leandro criou uma história em versos setissílabos e estrofes definidas em sextilhas (posteriormente, suas obras foram escritas em sextilhas, setilhas e algumas em décimas com versos em sete sílabas poéticas) e ao ler para ouvintes, descobriu que poderia ganhar dinheiro imprimindo suas histórias em folhetos simples (uma folha sulfite A4 dobrada e redobrada formaria 8 páginas com 32 sextilhas).

A ideia do nosso romance em versos gerou uma profissão no Brasil pelas mãos de Leandro. Por necessidade, ele inventou o Folheteiro (cordelista no Brasil). Inventou o nosso próprio folheto em versos com suas regras de: Estrofação, métrica, rima, ritmo e oração. A ideia de contar, ler, declamar versos e histórias, não é do Brasil, não é de Portugal, é um hábito que vem desde o princípio da humanidade.
A ideia do nosso folheto com uma forma exclusiva, fixa poética de contar histórias é de Leandro, o paraibano. O Cordel não é contado de qualquer forma, com qualquer forma de verso e estrofe, o cordel tem as suas regras definidas e imutáveis. Com essa ideia ele sobreviveu e sustentou sua família. O nosso Cordel com suas regras imutáveis nunca existiu antes de Leandro.
O romance adaptado para versos de Pirauá, jamais provocaria a ideia de uma forma de ganhar dinheiro a não ser dentro de um livro de poesias de algum poeta famoso. O que só acontece com alguns poetas contados nos dedos das mãos, no caso dos poetas do Brasil. O feito de Pirauá jamais chegaria a criação de uma forma de folheto para: Imprimir, ler, vender, contar histórias e encantar. Folheto é hoje conhecido por Cordel, simplesmente porque alguém se lembrou de algum papel preso com prendedor no cordel (cordão português) enrolado no corpo de um cego em uma determinada época de mais de cem anos atrás, em Portugal, ou porque o nosso folheto era bom demais para continuar com o seu próprio nome brasileiro: romance ou folheto. São nomes brasileiros. O brasileiro tinha que dar um nome estrangeiro, ou melhor, um nome do próprio idioma, mas que é, usualmente, usado em outra nação.
Como poeta eu me recuso ao silêncio.

Um poeta tem compromisso com a boa cultura e o esteio principal da boa cultura é a verdade.
Se um dia me apresentarem, comprovadamente um genuíno folheto de cordel português, com a mesma formatação dos Cordéis de Leandro, publicado antes de Leandro, eu serei o primeiro a contar cantando aos quatros ventos, a verdadeira origem do Cordel. Nesse caso Leandro Gomes de Barros passaria a ser, para mim, um dos nossos melhores escritores do cordel Português e não mais, o criador do Cordel Brasileiro. Ficaria muito feliz em ver as estruturas nojentas do meu ego desabarem. O homem que consegue destruir o seu próprio ego, restaura o verdadeiro individuo do seu ser. Volta a ser uno. Enquanto isso não acontece, não me renderei as chorumelas, falácias ou hipóteses empíricas, em razão da permanência da minha zona de conforto, ou para agradar ou desagradar a outrem. Que bom que o IPHAN voltou os olhos para o nosso Cordel e assumiu. 


Somos vira-latas, mas antes de sermos vira-latas somos uma nação chamada Brasil. Por falta de incentivo ou vergonha, não temos uma bandeira na parede da sala da nossa casa, como se vê na sala da casa de cada americano, mas temos o dever cívico de alimentar o sentimento de amor a nossa pátria, que há muito tempo e ainda hoje, “tão-mal-amada” pelo majoritarismo político sem a real noção do certo e do errado, da mentira e da verdade, do sentimento de patriotismo.

Josué Gonçalves de Araújo
Poeta Cordelista e editor
São Paulo/agosto/2019

Era uma vez ... um Cordel - compre já que eu garanto a sua entrega



Coletânea de Cordéis Infanto/juvenil

O Cordel do Pavão Misterioso foi uma das histórias que minha Avó me contou, a luz de lamparina, quando eu tinha apenas, sete anos de idade. 
Ela não sabia ler, mas de tanto escutar, havia decorado muitas histórias de Cordel que ela sempre chamava de “Romansos”. 
Essas histórias definiram os meus caminhos na vida. 
Hoje eu sou um daqueles escritores das histórias que a minha Avó contava.
Era uma vez um “Romanso”...



Trecho de: O Pica pau malvado e o Grilo falante
...

Era uma vez na floresta
Um grilinho falador
Que encantava os ouvintes
Com seu dom de orador,
Mas além de bem falante
Também era um bom cantor.
Certo dia sem querer,
Estando longe de casa
Tomou chuva avoando
E para secar a asa
Foi esconder-se num oco
De profundidade rasa.
Compre sem frete por 35,00
O Cricrilim não sabia
Que naquele oco rasinho
Do tronco da velha árvore
Morava um bicudinho
Chamado de pica-pau
Com cara de cruelzinho.
Como todo bom cantor
O grilinho acomodado
Abriu o bico e cantou
O seu belo cricrilado,
Sem saber que alertou
O tal pica-pau malvado.
Pica-pau chegou valente
Cravou o bico no grilo
Igual cão em carne seca.
Por causa desse vacilo,
Ficou o grilo, enrascado
Naquele novo asilo.
...
Como é que o Grilo vacilão vai sair dessa enrrascada?
Trecho de mais um cordel da coletânea: A fadinha Lara e a pedra estrelada
...
Era uma vez... Eu já estava
Dormindo e ressonando
Na rede da minha sala,
Quando ouvi alguém chamando:
“Vovozinho Dubidú,
Você está me escutando? ”
Assustei-me, ainda ouvindo
Aquela doce vozinha
Que vinha da minha estante,
Onde brilhava a pedrinha.
Olhando mais de pertinho,
Vi lá dentro uma fadinha.
— Vovozinho Dubidú
Você está me ouvindo?
— Estou ouvindo e vendo,
Mas eu devo estar dormindo!
Também não sou Dubidú,
Deve estar me confundindo!
— Eu sou a fadinha Lara,
Procurando uma mãezinha,
Filha de um Akpalô,
Desses que conta historinha
De princesa e de magia,
Para qualquer criancinha.
— Procure em outro lugar
Uma mamãe disponível,
Porque, eu não sou mamãe,
Creio que isso é bem visível.
Conversar com uma pedra
Para mim, já é incrível!
...









quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Autor: Jeús Gonçalves de Araújo
Editora Areia Dourada

Valor: 35,00

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O livro narra a história real do escritor Jeús Gonçalves de Araujo e sua corrida contra o tempo ao descobrir que por causa de um câncer precisa retirar o estômago através de uma cirurgia de gastrectomia total (retirada total do estômago) e fazer sessões de quimioterapia. A vida que muda num instante e tem dias amargos, tristes, inexplicáveis, mas de grandes superações. Momentos impressionantes vividos em todas as fases, desde o diagnóstico, quando tomou conhecimento da doença por um telefonema do médico, as sessões de quimioterapia e como buscou forças para a superação através da sua fé. Há relatos emocionantes da sua história de vida. Conta como foi adaptar-se à realidade depois da retirada total do estômago. Em meio à descrição de cenas reais, o autor busca fatos vividos no tempo para responder perguntas fundamentais da sua existência. Transmite confiança e emoção em todos os seus relatos. Menciona momentos em que a vida o ensinou a superar, a suportar e ter esperança, e acima de tudo, nunca desistir dos seus sonhos. O autor leva os leitores a refletirem que a vida é um instante, não se pode perder tempo, mas desfrutar das oportunidades preciosas. Esta é uma história comovente de luta e superação. O livro foi escrito no meio dos acontecimentos, num prazo de 30 dias, através do aplicativo de um iPhone.. Apresentamos o livro: SUPERAR É PRECISO.


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Estudando o Cordel Brasileiro - Aderaldo Luciano


As tentativas de estudar o cordel brasileiro não levaram em conta o seu caráter poético e, quando tentaram considerá-lo, uniram-se ao contraditório por não classificá-lo como se deveria classificar qualquer peça poética, parte do todo literário universal. Isso se daria (e se deu quando destinei-me à observação sistematizada) com o estudo à luz dos gêneros literários, orientando os estudos pela conclusão, a partir da observação, segundo a qual o cordel brasileiro é uma forma poética fixa da poesia universal. A forma fixa do cordel se dá pela exigência do cumprimento de suas regras intrínsecas e definitivas. Essas regras fizeram-no distanciar-se do malogrado conceito de "literatura de cordel", ligado ao que se fazia e se fez em Portugal, aos pliegos sueltos e coplas de Espanha, à colportage francesa, aos chapbooks britânicos. O cordel brasileiro é forma genuinamente brasileira por ter, em primeiro lugar, criado a forma poética fixa (com um mínimo de estrofes, sejam sextilhas, septilhas ou décimas; nunca em quadras, nem em prosa; a utilização majoritária do verso setissilábico; a observação da rima, disposta seguindo os pioneiros) e, para além da forma fixa, ter criado também o sistema literário cordelístico, pautado pela indicação de Antonio Candido (aquela que diz, em seu Formação da Literatura Brasileira - Momentos Decisivos: o sistema literário é formado pela presença de um autor, de um editor, de um leitor. Acrescentei ousadamente, com imenso receio de ser mal-entendido, mas precisava correr o risco: o crítico). Alguns pesquisadores quiseram estudar o cordel e o fizeram, até sistematicamente, mas desconsideraram os tópicos que citei. Poetas também resolveram metalinguisticamente falar sobre cordel. Seguem-se quatro expoentes, mestres, que o fizeram:

Manoel Monteiro, pernambucano de Bezerros, escreve e publica em 2011, com as bençãos da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, o folheto Aula De Cordel - Uma Herança Portuguesa. Pelo próprio título, o curioso pela arte cordelística é levado a duas constatações óbvias, mas que precisam ser levadas a sério: Manoel não trata nossa poesia como "literatura de cordel", mas como cordel, entretanto deixa um cordão umbilical com o que se produziu em Portugal no séc. XVIII. O poeta é dos mais lúcidos que pude encontrar, estudioso, conhecedor do ofício, produção longa e bem cuidada. Na primeira septilha o seu narrador nos alerta para algo que muitos deixam de lado por quererem abraçar a nomenclatura recebida pelo brasilianista Raymond Cantel (literatura de cordel). Ele nos alerta para a certeza de que nosso poema já foi chamado de Romance, Verso, Estória, Folhetim, Folheto, Livreto e Livro, mas que hoje é conhecido apenas por Cordel. A seguir, faz uma verdadeira aula de poética do cordel, escrutinando os detalhes da produção. Disseca as estrofes, mostra as rimas, conta os versos, sempre alertando para o rigor da construção. Não trata do processo histórico do cordel ou de outra característica extrínseca, parte diretamente para o texto. Uma ótima introdução ao fazer poético, não só para o cordel, mas para elementos da poesia brasileira. Manoel Monteiro prestou importantes serviço para o cordel brasileiro. Faleceu em Belém do Pará, em junho de 2014.

Azulão, codinome de José João dos Santos, paraibano de Sapé, radicou-se no Rio de Janeiro na primeira metade do séc. XX e, de lá, irradiou sua produção cordelística. Um de seus clássicos, O Trem Da Madrugada, é um importante retrato das relações humanas com a tecnologia ferroviária na cidade do Rio. Um verdadeiro tratado social sobre os tipos e costumes cariocas na década de 80. Mas aqui nos referiremos ao trabalho O Que É Literatura De Cordel?. Diferente de Manoel Monteiro, Azulão centrou-se no termo português, trazendo-o à nossa poética genuína. Nas 17 estrofes iniciais, encontramos elementos para entender a importância do poeta no seio de sua comunidade. A partir dessa importância individual, a importância de sua produção poética. Trata da presença do cordel e do repente, de sua aceitação pelo interior do Nordeste, de sua presença nas feiras livres e cantorias, do diálogo presente entre o rural e o urbano, da migração do poeta do primeiro para o segundo espaço, das festas (batizados, casamentos, vaquejadas) e da possibilidade de adentrar nas escolas. A partir da estrofe 19, Azulão e seu narrador, como muitos pesquisadores, apresentam o quadro de herança de portugueses e espanhóis, caindo no equívoco ao afirmar que havia um sistema literário no qual os poetas escreviam e publicavam na forma de folheto e chamavam a essa produção de literatura popular e de cordel. Essa nomenclatura foi dada pelos estudiosos e mais precisamente por Teófilo Braga. Não houve o sistema. E não se encontram naquela produção elementos que os assemelham às características intrínsecas do cordel brasileiro. Ficando a semelhança apenas no aspecto gráfico. No folheto, portanto, não se encontra a análise, a apresentação da peça poética, mas os aspectos históricos (sem datação). Azulão nos deixou em abril de 2016.

Antonio Américo de Medeiros, potiguar de São João do Sabugi, radicou-se em Patos, na Paraíba. No sertão paraibano forjou toda sua intervenção na cultura poética brasileira. É o poeta da Cruz da Menina, da Moça Que Mais Sofreu na Paraíba do Norte. Cantador, repentista, folheteiro, escreveu Os Mestres Da Literatura De Cordel. Nesse folheto o poeta nos apresenta os pais do cordel, segundo ele, quais sejam, Silvino Pirauá e Leandro Gomes de Barros. Também nos aponta o local de nascimento do cordel brasileiro: entre Vitória de Santo Antão e o Recife. Nos diz ainda que Pirauá vai se encaminhando mais para a cantoria, com Zé Duda, e que Leandro abraça a tipografia. Fazendo jus ao título, Antonio Américo desfia toda a genealogia do cordel, trazendo a nós poetas já esquecidos, cujas obras, apesar de importantes para a consolidação da arte, foram abandonadas dos estudos e pesquisas. Até a estrofe 18 lista a importância desses poetas da primeira geração, Princesa. A partir da estrofe 19, inaugurada com a morte de Leandro em 1918, traça o mapa da herança, primeiro a João Martins de Ataíde, depois a José Bernardo, que transporta todo o material que fora de Leandro e de Ataíde para o Juazeiro do Pe. Cícero, onde reinou até 1966. Daí, Antônio Américo, olha para Manoel Camilo e sua Estrela da Poesia em Campina Grande, João José, da Luzeiro do Norte. Da derrocada dessas editoras e editores de cordel, Américo lista os principais cordelistas da segunda geração: Camelo, Pacheco, Sena. Entra na contemporaneidade e nos oferece um banquete de nomes e datas e obras. Américo faleceu em Patos em janeiro de 2014. Legou-nos vasto universo de poesia e ensinamento.

Pedro Costa, piauiense de Alto Longá, criou a revista De Repente, dedicada à poesia de cordel e ao repente nordestino. Radicado em Teresina teve papel protagonista na divulgação e consolidação do cordel e do repente no Brasil. Pedro conseguiu o diálogo entre os poetas do povo e as elites culturais piauienses, abrindo a janela para a tomada de territórios inéditos ao cordel. Escreve o folheto O Que é Cordel (E Seus Mestres) para ilustrar e servir de roteiro para suas incontáveis oficinas e palestras, cursos e recitais. Retoma, no título, o termo "cordel", mas já na terceira estrofe procura o embrião europeu citando as origens nos centros de Portugal, Espanha e França. Um pouco mais à frente cobra um olhar diferente para o cordel afirmando que "cordel é literatura", logo abaixo, contraditoriamente, diz que cordel é barbante e prega a inoportunidade do termo ao produto cordelístico pedindo que se chame de folheto e não de cordel. A proposição fica vaga porque o termo folheto se emprega ao produto gráfico e não ao conteúdo poético. Observe o leitor que fiz uma gradação: de Manoel Monteiro que era poeta de bancada a Azulão, cantador e de bancada, com ênfase na bancada, depois Antonio Américo, cantador e cordelista, com ênfase na cantoria e Pedro Costa, a síntese mais assentada. Por isso, na estrofe 11, Pedro constrói a divisão dos tipos de poetas do sertão: o aboiador, o escritor, o embolador e o repentista. Fica na citação, não desfia suas ações, seus ofícios, o que os distingue. A partir daí segue a listagem de poetas, sem data de suas aparições. Na penúltima sextilha cita os trabalho de Geová Sobreira e Gilmar de Carvalho para corroborar seu bom trânsito com o pensamento acadêmico. Pedro Costa faleceu aos 54 anos em abril de 2017.

Esses quatro folhetos citados nos ofertam um pouco do olhar dos poetas sobre suas próprias produções e sobre o cordel brasileiro: Manoel Monteiro centrado nos elementos formais, Azulão nos aspectos históricos e sociológicos, Antonio Américo no percurso histórico e genealógico, Pedro Costa na classificação dos tipos de poetas e na busca pela literariedade do cordel. A próxima matéria vai se debruçar sobre o que escreveram metalinguisticamente poetas em atuação.


Aderaldo Luciano


Doutor e mestre em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do CNPq, inscrito nos Grupos de Trabalho Caminhos da violência em busca da visão compartilhada e Palavra Fora do Eixo. Ligado ao Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos do Épico da Universidade Federal de Sergipe, estudando os conceitos fundamentais da poética do nordeste brasileiro. Autor dos livros Apontamentos para uma história crítica do cordel brasileiro (Editora Luzeiro/Edições Adaga, 2012, teoria), O Auto de Zé Limeira (Confraria do Vento, 2008, poesia). Co-autor em Violência simbólica e estratégias de dominação: produção poética de autoria feminina em dois tempos (Editora da Palavra, 2010, ensaios) e Quem Conta um Conto – Estudos Sobre Contistas Brasileiras Estreantes Nos Anos 90 e 2000 (Tempo Brasileiro, 2009, ensaios) ambos organizados pela professora Dra. Helena Parente Cunha.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Macunaima em cordel de Mário de Andrade por Josué Gonçalves de Araujo


Setenta anos sem Mário de Andrade
Por: Josué Gonçalves de Araújo

Mario de Andrade nasceu
No ano noventa e três,
Fim do século dezenove.
Repleto de altivez,
Foi “um escritor difícil”,
Brilhando na “escuridez”.

Aos dez anos de idade
Fez um poema-canção,
Mas a mãe fez um muxoxo
Contra a sua inspiração.
Isso não atenuou
Seu ânimo na vocação.

A torre da velha era,
Mário não a implodiu,
Contudo, outra imponente,
Sobre os ombros, erigiu:
As bases do modernismo
Que a Pauliceia aplaudiu.

“Meu São Paulo da garoa”,
Mário é verbo intransitivo,
Completo sem complemento,
Futurista, intuitivo.
Pauliceia Desvairada
É obra desse inventivo!

As obras falam por si:
Moda: “Viola quebrada”
Livro: “Lira Paulistana”.
Sua obra consagrada,
“Macunaíma”, o herói,
Nas telas, foi projetada.

Nos versos do Futurista,
Poeta Mário de Andrade:
“Ver arte contando história,"
“São glórias desta cidade. ”
Quando um povo não tem glória,
Arte é celebridade!


Carente de ser amado,
Impunha-se combativo.
Intelectualmente, o Mário
Foi um ser hiperativo:
Sua alma, sua arte,
Polêmico e criativo.

Vinte e cinco, nesse dia,
No verão em fevereiro
Do ano quarenta e cinco,
Nós perdemos o guerreiro:
O Alfa do modernismo
No Brasil do brasileiro.

Da nossa literatura,
Alguém disse uma verdade:
Morte semelhante a essa,
Íntegra em acuidade,
Só de Machado de Assis,
Pleno em genialidade.

O Poeta é inserido
Pela arte do destino
Que a vida lhe atribui,
Na idade de menino.
Se a poesia o escolhe
É arranjo do divino.

Setenta anos sem Mário,
O poeta modernista,
As saúvas majoraram,
Sem o carão do romancista!
Também, verso, rima e métrica,
Tem se ampliado na lista.

Meu poeta futurista,
Símbolo da modernidade,
Tarsila era integrante
Do seu ciclo de amizade.
Junto com Manuel Bandeira
E o rebelde Oswald de Andrade.

Oxalá, que a Pauliceia,
Mais outro Paulista invente
Com verve igual a de Mário
E espírito eloquente,
Que nos livre do marasmo,
Renovando o presente!

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