Preconceito e machismo no mundo da
arte
(preconceito contra as mulheres que tentaram praticar a Arte
na música, poesia, teatro e pintura.)
O preconceito contra as mulheres na arte tem raízes
profundas e históricas. Desde o século 19, as mulheres enfrentaram barreiras
significativas para ingressar e serem reconhecidas no mundo artístico. Elas
eram frequentemente proibidas de frequentar escolas de arte e só podiam estudar
em ateliês financiados por famílias ou academias particulares que as aceitavam.
Mesmo quando conseguiram ingressar no meio artístico, as
mulheres muitas vezes eram relegadas ao papel de musas inspiradoras, em vez de
criadoras. A desigualdade de gênero persistiu, com obras de mulheres
representando uma minoria nos museus e exposições. Por exemplo, em 2017, o
grupo feminista Guerrilha Girls destacou que apenas 6% dos nomes em exposições
no Museu de Arte de São Paulo (MASP) eram femininos, apesar de 60% dos nus
representados serem mulheres.
Apesar dessas barreiras, muitas mulheres artistas
conseguiram se destacar e contribuir significativamente para a arte. Anita
Malfatti e Tarsila do Amaral, por exemplo, foram pioneiras no Modernismo
brasileiro. No entanto, o preconceito e a desigualdade ainda existem, e as
mulheres continuam a enfrentar desafios para serem reconhecidas e respeitadas
no mercado artístico.
Exemplos de mulheres que sofreram preconceitos
1.
Anita
Malfatti: Uma das
pioneiras do Modernismo brasileiro, Anita enfrentou críticas severas e até
mesmo humilhações por suas obras inovadoras. Sua primeira exposição individual
em 1914 foi recebida com tanto escárnio que ela quase abandonou a carreira.
2.
Tarsila
do Amaral:
Considerada uma das figuras centrais do Modernismo brasileiro, Tarsila
enfrentou desafios como a falta de reconhecimento inicial e a necessidade de se
mudar para a Europa para estudar e se desenvolver como artista.
3.
Anna
Maria Maiolino:
Nascida na Itália, Anna Maria enfrentou preconceitos tanto por ser estrangeira
quanto por ser mulher. Ela trabalhou como empregada doméstica para sustentar
seus filhos enquanto desenvolvia seu trabalho artístico.
4.
Zê
Charone: A atriz e
produtora brasileira enfrentou preconceitos desde o início de sua carreira no
teatro, sendo comparada a uma prostituta por simplesmente dizer que era atriz.
5.
Mayara
Yamada:
Performance artist, Mayara enfrentou ataques e críticas por seu trabalho que
lida diretamente com seu corpo e temas de identidade e gênero.
Essas mulheres, entre muitas outras, mostraram resiliência e
determinação ao superar os obstáculos impostos pelo preconceito e machismo no
mundo da arte.
No caso da música
No campo da música, muitas mulheres talentosas
enfrentaram preconceitos e barreiras ao longo dos anos.
1.
Billie
Holiday: Enfrentou
racismo e sexismo ao longo de sua carreira. Sua luta contra a discriminação
racial é bem documentada, e ela enfrentou muitos obstáculos para ser
reconhecida pelo seu talento.
2.
Nina
Simone: Além de
ser uma musicista fenomenal, Simone foi uma ativista dos direitos civis. Ela
enfrentou tanto racismo quanto sexismo, e sua música muitas vezes refletia suas
lutas pessoais e políticas.
3.
Madonna: Ao longo de sua carreira, Madonna
quebrou muitas barreiras para as mulheres na música pop, mas enfrentou críticas
severas e muitas vezes misóginas pela sua atitude ousada e provocativa.
4.
Aretha
Franklin: A
"Rainha do Soul" teve que lutar contra o sexismo na indústria musical
para se estabelecer como uma das maiores cantoras de todos os tempos.
5.
Björk: Conhecida por sua originalidade e
criatividade, Björk frequentemente fala sobre o sexismo na indústria musical,
incluindo a dificuldade de ser reconhecida como produtora de suas próprias
músicas.
6.
Tina
Turner: Sua
carreira foi marcada por uma luta pessoal e profissional para superar o abuso
doméstico e o controle de seu marido, além de enfrentar preconceitos na
indústria musical.
7.
Marisa
Monte: No Brasil,
Marisa Monte enfrentou desafios para ser reconhecida como uma das grandes
cantoras e compositoras da música popular brasileira, muitas vezes tendo que
provar seu valor em um ambiente dominado por homens.
8.
Chiquinha
Gonzaga
Pioneira na música brasileira e uma
figura importante na história da música popular do país. Nascida em 17 de
outubro de 1847 no Rio de Janeiro, ela foi a primeira mulher a reger uma
orquestra no Brasil e a autora da famosa marcha carnavalesca "Ó Abre
Alas", composta em 18991.
Além de sua contribuição musical,
Chiquinha também foi uma abolicionista fervorosa e lutou pelos direitos
autorais dos músicos e autores teatrais. Ela enfrentou muitos desafios como
mulher em uma sociedade patriarcal, mas sua determinação e talento a levaram a
se destacar em um campo dominado por homens.
Chiquinha Gonzaga foi uma figura
extraordinária na música brasileira.
Carreira Musical
- Primeiras
Composições:
Começou a compor desde jovem, com destaque para a cantiga de Natal
"Canção dos Pastores" aos 11 anos.
- Primeira
Marchinha de Carnaval:
Compositora da famosa marcha "Ó Abre Alas" em 1899, que se
tornou um clássico do carnaval brasileiro.
- Primeira
Regente:
Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, combinando
elementos populares e eruditos em suas composições.
- Defesa
dos Direitos Autorais:
Fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e lutou pela proteção
dos direitos autorais dos músicos e autores teatrais.
Contribuições Sociais
- Abolicionista: Ativa na luta contra a
escravidão, Chiquinha vendeu partituras para arrecadar recursos para a
Confederação Abolicionista.
- Legado: Em 2012, foi instituído o Dia da
Música Popular Brasileira em sua homenagem, comemorado em 17 de outubro,
seu aniversário.
Chiquinha Gonzaga deixou um legado duradouro na música
brasileira, sendo uma pioneira e uma figura inspiradora para muitas
gerações.
Essas mulheres e muitas outras demonstraram resiliência e
talento extraordinários, superando preconceitos para deixar um impacto eterno
no mundo da música.
No teatro
Dercy Gonçalves foi uma das mais populares comediantes
brasileiras do século XX, mas enfrentou diversos preconceitos ao longo de sua
carreira. Aqui estão alguns dos principais desafios que ela superou:
Preconceitos de Gênero
- Machismo
no Humor:
Dercy frequentemente discutia o preconceito contra as mulheres no humor.
Ela enfrentou a censura e a resistência de um ambiente dominado por
homens, onde o humor feminino era muitas vezes desvalorizado.
- Censura
Militar:
Durante a ditadura militar no Brasil, Dercy desafiou a censura ao quebrar
rótulos e fazer piadas que abordavam temas polêmicos. Ela chegou a mostrar
o seio na TV como uma forma de transgressão e desafio às normas sociais.
Preconceitos Sociais
- Estereótipos
de Idade:
Dercy enfrentou estereótipos relacionados à idade, especialmente por ser
uma mulher idosa que continuava a se expressar de maneira ousada e
irreverente.
- Críticas
à Intelectualidade:
Ela frequentemente criticava a intelectualidade e os estereótipos
culturais, o que gerava críticas de setores mais conservadores da
sociedade.
Legado
- Desconstrução
de Estereótipos:
Dercy é lembrada por sua habilidade de desconstruir e reconstruir
estereótipos, tanto em suas performances quanto em suas entrevistas e
declarações públicas.
- Homenagens: Sua vida e obra continuam a ser
celebradas, como no monólogo teatral "Nasci pra ser Dercy", que
presta uma homenagem à sua carreira e impacto na cultura brasileira.
Dercy Gonçalves foi uma figura marcante que enfrentou e
desafiou muitos preconceitos ao longo de sua vida, deixando um legado duradouro
na arte do humor e na cultura brasileira.
na poesia
Predomínio
do machismo na poesia parnasiana
(A arte dos sonetistas)
O Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu no
final do século XIX e se destacou pela busca da perfeição formal e pela
valorização da estética clássica. No entanto, como muitos movimentos literários
da época, ele refletia as normas e valores sociais predominantes, incluindo o
machismo.
Características do Parnasianismo
- Culto
à Forma:
A preocupação com a forma e a estética era central, muitas vezes em
detrimento do conteúdo emocional ou social.
- Objetividade: A poesia parnasiana buscava a
impassibilidade e a objetividade, afastando-se do sentimentalismo
romântico.
- Temas
Clássicos:
A retomada de temas e formas da Antiguidade greco-romana era comum.
Machismo no Parnasianismo
("A literatura era um campo dominado por
homens...")
Representação Feminina: As
mulheres eram frequentemente retratadas de maneira idealizada e objetificada,
seguindo os padrões de beleza e comportamento da época.
- Exclusão
das Mulheres:
As mulheres escritoras enfrentavam barreiras significativas para serem
reconhecidas e publicadas. A literatura era um campo dominado por
homens, e as vozes femininas eram muitas vezes silenciadas ou
marginalizadas.
Exemplos de Poetas Parnasianos
- Olavo
Bilac: Um
dos principais nomes do Parnasianismo brasileiro, conhecido por sua
habilidade técnica e perfeição formal.
- Alberto
de Oliveira:
Outro grande poeta parnasiano, que também valorizava a forma e a estética
em suas obras.
O machismo na poesia, assim como em outras formas de arte,
tem sido uma barreira significativa para muitas mulheres ao longo da história.
Aqui estão alguns pontos importantes sobre o tema:
Histórico
- Exclusão
das Mulheres:
Historicamente, as mulheres foram frequentemente excluídas dos círculos
literários e acadêmicos, sendo desencorajadas de escrever e publicar suas
obras.
- Pseudônimos
Masculinos:
Muitas mulheres usaram pseudônimos masculinos para publicar suas obras e
serem levadas a sério. Um exemplo famoso é o das irmãs Brontë, que
publicaram seus primeiros trabalhos sob nomes masculinos.
- Maria
das Neves Baptista Pimentel: Em 1938, publicou seu primeiro cordel,
"O Violino do Diabo ou o Valor da Honestidade", sob o pseudônimo
Altino Alagoano, nome de seu marido.
Sobre as irmãs Brontë
Foram uma
família literária notável do século XIX, composta por três irmãs que se
tornaram escritoras famosas: Charlotte Brontë, Emily Brontë e Anne
Brontë. Elas nasceram na pequena aldeia de Thornton, no condado de West
Yorkshire, Inglaterra, e são conhecidas por suas obras que se tornaram
clássicos da literatura inglesa2.
Charlotte Brontë (1816-1855)
- Obras Principais: "Jane Eyre", "Shirley", "Villette"
- Pseudônimo: Publicou sob o nome
de Currer Bell
- Jane
Eyre: Seu
romance mais famoso, publicado em 1847, conta a história de uma jovem órfã
que enfrenta desafios e finalmente encontra amor e felicidade.
Emily Brontë (1818-1848)
- Obras
Principais:
"Wuthering Heights" (O Morro dos Ventos Uivantes)
- Pseudônimo: Publicou sob o nome
de Ellis Bell
- Wuthering
Heights:
Publicado em 1847, é o único romance de Emily e é considerado um dos
maiores clássicos da literatura mundial.
Anne Brontë (1820-1849)
- Obras
Principais:
"Agnes Grey", "The Tenant of Wildfell Hall" (A
Inquilina de Wildfell Hall)
- Pseudônimo: Publicou sob o nome
de Acton Bell
- A
Inquilina de Wildfell Hall: Publicado em 1848, é um romance que
aborda temas como o abuso doméstico e a luta pela independência feminina.
Vida e Influências
- Infância: As irmãs cresceram em
uma casa paroquial em Haworth, onde desenvolveram suas imaginações através
de histórias e jogos de criação de mundos imaginários.
- Morte
da Mãe: A
morte precoce de sua mãe em 1821 e a subsequente morte das irmãs mais
velhas influenciaram profundamente suas obras.
- Pseudônimos: Para evitar
preconceitos contra mulheres escritoras, elas publicaram suas obras sob
pseudônimos masculinos.
Legado
- Museu
Brontë Parsonage: A
casa onde cresceram, em Haworth, é agora um museu que atrai visitantes de
todo o mundo.
- Reconhecimento: Suas obras continuam
a ser lidas e estudadas, e elas são celebradas como pioneiras na
literatura feminina.
As irmãs Brontë deixaram um legado relevante com
suas histórias poderosas e personagens complexos.
Sobre Maria das Neves poeta
cordelista
Maria das Neves Baptista Pimentel foi uma poetisa e
cordelista pioneira no Brasil. Nascida em 2 de agosto de 1913 em João
Pessoa, Paraíba, ela foi a primeira mulher a publicar folhetos de cordel
no país.
Vida e Carreira
- Família: Filha do poeta e editor de
cordel Francisco das Chagas Batista, Maria das Neves teve uma infância
rodeada por livros e literatura.
- Primeira
Publicação:
Em 1938, publicou seu primeiro cordel, "O Violino do Diabo ou o Valor
da Honestidade", sob o pseudônimo Altino Alagoano, nome de seu
marido.
- Contribuições: Ela traduziu obras literárias
eruditas para o formato de cordel, tornando-as acessíveis ao público
popular. Entre suas obras estão "O Corcunda de Notre Dame"
(1935), "O Amor Nunca Morre" (1938) e "O Violino do Diabo
ou o Valor da Honestidade" (1938)1.
Desafios e Reconhecimento
- Preconceito: Devido ao preconceito da época,
Maria das Neves usou o pseudônimo de seu marido para publicar suas obras.
- Reconhecimento: Somente a partir de 1970 é que
sua autoria feminina foi reconhecida publicamente.
Legado
- Cordelteca
Maria das Neves Baptista Pimentel: Em 2019, foi inaugurada a Cordelteca Maria das Neves
Baptista Pimentel na Biblioteca Central da Universidade Federal do Ceará
(Unifor), em Fortaleza, dedicada a preservar e organizar os folhetos de
cordel.
Maria das Neves foi uma figura importante na história do
cordel brasileiro, abrindo caminho para outras mulheres na poesia popular.
Representação Feminina
- Objetificação: As mulheres eram frequentemente
retratadas de maneira idealizada e objetificada na poesia, sendo vistas
mais como musas inspiradoras do que como criadoras.
- Temas
Limitados:
As poetisas eram muitas vezes limitadas a escrever sobre temas
considerados "apropriados" para mulheres, como o amor e a
família, enquanto os homens tinham liberdade para explorar uma gama mais
ampla de assuntos.
Mais exemplos de Poetisas que Enfrentaram Machismo
- Emily
Dickinson:
Embora agora seja reconhecida como uma das maiores poetisas americanas,
Dickinson viveu uma vida reclusa e publicou apenas uma pequena fração de
sua obra durante sua vida, muitas vezes enfrentando críticas por seu
estilo inovador.
- Sylvia
Plath: Plath
enfrentou preconceitos tanto por ser mulher quanto por abordar temas
considerados tabus, como a depressão e o suicídio, em sua poesia.
- Cecília
Meireles:
No Brasil, Meireles enfrentou desafios para ser reconhecida em um ambiente
literário dominado por homens, mas conseguiu se destacar como uma das
maiores poetisas do país.
Mudanças e Conquistas
- Movimentos
Feministas:
Os movimentos feministas do século XX ajudaram a abrir espaço para as
mulheres na literatura, permitindo que mais vozes femininas fossem ouvidas
e reconhecidas.
- Reconhecimento
Tardio:
Muitas poetisas receberam reconhecimento póstumo, com suas obras sendo
redescobertas e valorizadas por novas gerações de leitores e críticos.
Conclusão:
O machismo?
O machismo na arte é um reflexo das desigualdades de gênero
presentes na sociedade. O machismo não é oriundo da poesia, do soneto, do
cordel, da música, da pintura, enfim, o machismo tem a ver com a cultura no
mundo em que sempre predominou o homem. Os poetas homens criaram Deus no
coletivo de 66 livros chamados de bíblia. Criaram Deus masculino. O pecado só
atinge as mulheres, pois você nunca ouviu dizer que homens foram apedrejados
por serem adúlteros. Na bíblia não tem um mandamento para não cobiçar o homem
da outra. E ninguém em sã consciência acredita que Deus verdadeiro seria
machista, não e mesmo?
E quanto as regras e valores da moral criada pela sociedade?
Só havia lei que condenavam a mulher por causar desonra ao
homem e não ao contrário, o homem podia e ainda pode andar de calção ou sem
camisa na rua, mas a mulher não. O homem podia ir à casa vermelha, aos cabarés,
que não era infidelidade, mas a mulher não podia pôr os pés para fora de casa.
Portanto, penso que o machismo foi criado pelos homens, que criaram Deus e a
religião e formaram a sociedade liderada pelos próprios homens. O instrumento
que mantém e alimenta até hoje o machismo é a religião e a sociedade. Quanto a
Deus, nenhum ser humano pode afirmar nada de real, mas posso assegurar com
absoluta convicção que nenhuma palavra machista poderia sair da sua boca ou
brotar em seu pensamento.
E o Cordel é coisa de machista ou do machismo?
O Cordel é mais uma coisa da arte. Simplesmente.
Vamos combater o bom combate para modificar a cultura do
machismo, do fanatismo religioso e dos códigos morais da sociedade que só alimentam
essa ilusão nociva a sobrevivência da vida humana.
Nota: Fruto de pesquisas na internet mais algumas reflexões
pessoais.
Josué Gonçalves de Araujo
Poeta e editor/SP/2024
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