domingo, 27 de setembro de 2009

Chuva de pétalas em Holambra - uma questão de fé

Imagine que você se sente dentro de um recinto escuro, no mais completo breu, sem noção de onde se encontra, ou se existe, a porta que conduz à liberdade, à luz, à vida... Então você se movimenta tateando com os pés, com as mãos e qualquer ponto palpável, é uma referência, uma esperança para livrar-se da sua angustia, da sua ânsia de luz, de vida.
Nós, os humanos, acordamos no palco da vida, sem consciência das nossas origens: de quem somos, de onde viemos, porque viemos, para onde vamos. Não sabemos, nem mesmo, o que é essa energia que nos torna seres vivos, pensantes e conscientes da existência. A única certeza que temos e que somos obrigados a manter essa energia em nosso corpo e seguir na rampa do tempo. Seguir sempre em frente...
Assim, peregrinamos pela vida, tal qual um andarilho, caminhando pelas estranhas e obscuras estradas pedregosas, sem rumo definido. Qualquer alento de esperança é uma forte razão para sonharmos com a porta da salvação. O portal para a revelação de todos os segredos, incognoscíveis da nossa existência.
Curvamos, em massa, aos pés de um líder carismático que nos promete levar as portas do paraíso; mergulhamos de cabeça em um lago de água considerada benta, milagrosa pela fé de outros desesperados; fazemos amuletos; rezamos, as rezas ensinadas por pessoas crédulas; pintamos as nossas paredes de cores variadas de acordo com as orientações de exotéricos, etc.
Em visita a holambra - o paraíso das flores - perambulei entre uma multidão de turistas, e presenciei várias manifestações, oriundas da neura humana. Sobre uma torre, havia um locutor anunciando uma chuva de pétalas. Seriam sopradas da boca de um canhão e, posteriormente, elas seriam jogadas de um helicóptero. A voz do locutor soava sobre uma multidão agitada com as palmas das mãos voltadas para cima. O homem incitava os turistas: “ Diz a lenda que, quem consegue segurar uma pétala no ar tem um desejo realizado.”
As pétalas balouçavam no ar sobre as cabeças de uma multidão frenética. As pessoas com os olhos voltados para o céu e as mãos ansiosas por agarrar uma pétala, antes que ela tocasse a terra, disputavam o espaço, espremendo-se. Depois, com uma expressão muito feliz, apertava a pétala contra o peito, fechava os olhos e sonhava com o seu desejo. Alguns enchiam suas bolsas de pétalas, para sonhar um desejo em cada uma delas, no refúgio do lar. A chuva de pétalas, não é a atração principal da cidade, mas se tornou uma tradição em holambra. O comércio agradece aos milhares de turistas que, todos os anos, visitam a cidade, da mesma forma como acontece em Aparecida do norte e outras cidades, por motivos de fé religiosa.
O fato é que, qualquer pessoa astuciosa, com esperteza acima da média, pode usar e abusar dos seus próprios semelhantes. Isso acontece porque o ser humano vive aprisionado na escuridão da matéria. Estamos sempre ansiosos por um alento de esperança de nossas origens, por uma tábua de salvação da nossa alma, por um milagre ou por uma mágica que suavize os percalços da nossa sobrevivência nos caminhos escuros desse mundo material.

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