“Não pense de si mesmo além do que convém.”
Romanos 12:03
Tarde
quente, sufocante, barriga empanturrada do PF do centro, buzinas, ronco de
motores, muita fumaça, muitas pernas de gente e saco cheio de tédio, mas mesmo
assim, com todos os protestos do corpo, inclinei-me, dobrando a coluna
enferrujada, retorcendo as vértebras para apanhar no calçadão uma folha de
jornal pisoteada pelos transeuntes cegos. Corri os olhos, virei à folha e lá
estava o que sempre procuro - uma gota de sabedoria dando sopa. Gotas e
respingos de sabedoria, encontro nos lugares mais insólitos: No lixo, nos
balcões de bares, enfiados nos assentos dos ônibus públicos, voando sobre a
minha cabeça por força do vento, nos banheiros fedorentos,...
Sabedoria é
um elemento democrático, livre e acessível a todos, indiscriminadamente, ou
seja, não importa se saiu da mente ou da boca de um rico ou de um pobre, de um
gênio ou de um ignorante, o fato é que as fontes da sabedoria são isentas de
preconceitos, de raça, de cor, de religião, de nível sócio-político-econômico,
sexuais,... Mas, eu dizia, estava lá a gota de sabedoria que sempre alegra o
meu intelecto e a minha alma. Você é amplamente livre para ler nos próximos
parágrafos. Você decide, mas não fique com pena do Jumentinho:
“E, indo os discípulos, e fazendo como Jesus
lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas
vestes, e fizeram-no assentar em cima. E muitíssima gente estendia as suas
vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo
caminho.” Mateus 21:06-08
“Era o primeiro dia da semana, e um jumentinho
andava vagarosamente pela estrada poeirenta. No seu lombo ele carregava um
passageiro que nunca tinha carregado antes.
O
jumento e seu passageiro tinham deixado Betânia naquela manhã e eram
acompanhados por homens que viajavam a pé. Agora, algumas horas mais tarde,
eles passaram pela encosta do monte das Oliveiras e chegaram à cidade radiante
de Jerusalém.
De
repente, o animal ficou surpreso com os gritos da multidão à medida que se
aproximavam dos portões. Logo o jumento percebeu que ele era o centro das
atenções. Eles estão olhando para mim, disse a si mesmo. Levantou a cabeça e
olhou para os rostos sorridentes que olhavam para ele, - Eles estão sorrindo
para mim! Pensou.
Um
homem tirou a sua túnica e a estendeu no caminho do jumento. Uma mulher tirou o
seu xale e o estendeu na estrada. Logo, as crianças começaram a deitar ramos
das árvores pelo caminho, tornando-o um tapete macio e limpo para os seus
cascos. Eles estão me honrando como se eu fosse um rei! O jovem jumento
pensou. Ele ficou todo orgulhoso. Eles
estão cantando para mim. Ah! Que maravilha! Eu sou maravilhoso!
Quando
o cortejo chegou às escadarias do templo, a multidão ficou quieta. Por que eles
pararam? Indagou o jumento. O louvor tem de continuar!
Foi
então que o jumento percebeu, chocado, que os gritos não eram para ele. Seu
passageiro desmontou e subiu os degraus do templo. A multidão o seguiu,
deixando o jumento sozinho na rua, amarrado a um poste. Eu devia ter me sentido
honrado, percebeu o jumento, de ter carregado no humilde lombo o homem chamado
Jesus, mas eu estava tão convencido com o que eu achava ser a minha importância
que não apreciei a honra que eu tinha recebido.
Imagine!
Um jumento recebendo o louvor e a adoração que pertencia a Jesus! Que ridículo!
Que arrogante!
Nós
humanos, porém, cometemos o mesmo erro. Nós nos tornamos orgulhosos e achamos
que somos o máximo.
Deus
ordena: “Não pense de si mesmo além do que convém”. Deus sabe que nossa
tendência é deixar-nos levar a receber crédito por coisas que não fizemos.
Qualquer atitude orgulhosa que temos nos impede de apreciar as coisas que Deus
nos deu. Deus valoriza a humildade.”
*(Trecho
extraído do: Informativo O Semeador – Ano 1 – nº. 6 – bimestral julho/agosto –
2006. (Penha) SP.)
Quem pode afirmar que não pensa de si
mesmo, mais do que convém?
Eu penso. Penso mesmo, não vou negar. Não
vou mentir a mim, mesmo. Quem fala a verdade não merece castigo e não serei mentiroso.
Todos os dias, acordo me achando, entro no metrô lotado empurrando a todos
porque eu preciso de espaço. “Estou sempre me achando.” Mesmo quando sou
obrigado a pedir favores a outrem, eu me acho o “todo-todo”. Jogo uma toalha
descuidada sobre o meu orgulho, sobre o meu convencimento e peço o favor. Claro,
se não tem outro jeito! Depois é só puxar a toalha e tudo é glória pessoal. É
verdade! Gostaria de dizer o contrário! E quer saber mais? Até em dizer essas
verdades do meu próprio interior, já me sinto orgulhoso e sábio, mais que os
outros. Poder, orgulho, soberba, egoísmo, arrogância, é muito mais que uma taça
do elixir dos deuses; muito mais que uma orgia com as mais lindas e atraentes
mulheres. Tudo isso leva a sensação de poder e, poder é o atributo natural de
Deus. A natureza do homem é ambicionar a divindade.
Aconteceu lá, em pleno cenário do céu,
com o querubim Lúcifer – a luz das esferas – a pedra brilhante dos jardins dos
céus, o mais poderoso e inteligente e, o final foi a sua irrevogável e
irretratável expulsão das mordomias celestiais, que resultou na queda para o
inferno da matéria sem luz.
Sou eu, mais forte que Lúcifer, quando
no seu estado de anjo do bem? Eu, humano, escravo e residente de uma matéria física
escura, inconsciente das minhas próprias origens; sou eu, mais resistente ao
assédio do poder, do orgulho, da ambição desmedida, da arrogância, da luxúria,...mais
resistente que Lúcifer?
Para lembrar que o mal não compensa, tento
não esquecer que, mesmo com todo o seu poder e glória, a recompensa por não
resistir ao mal, foi o exílio no inferno.
O tal “lago de enxofre que arde dia e noite”, as “trevas exteriores”, onde
se ouvem” prantos e rangeres de dentes” .
– “E
o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a
besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o
sempre. (Apocalipse 20 : 10)
Quem quer ir para o
inferno? Você quer? Eu não quero. Eu não sou besta! Besta ou Jumento, é a mesma
coisa. Veja o que diz o Aurélio, aquele que pensa que sabe mais que os outros: Besta: Quadrúpede (Mula, Jumento); Pessoa
muito curta de inteligência; Indivíduo pretensioso, pedante, presunçoso; Metido
a besta, cheio de empáfia; vaidoso; convencido e pretensioso.
Na verdade, tudo isso
você pode resumir em uma só frase: Aquele que pensa de si além do que realmente
é.