Devo a vida ao instinto
Nessa tal sobrevivência!
É assim que todo dia,
Sobrevivo à existência.
O instinto é quem me salva,
Despertando-me na alva.
Ter a alma de escritor
É entregar-se no deslumbre,
Com a paz só de vislumbre
Num inferno sem pavor.
O tédio é sufocante
E a poesia é salvadora
— Colírio paliativo! —
Grande amiga animadora.
Mas o barco majestoso
Nas águas do mar colosso,
Deriva sem horizonte,
Com bússola sem ponteiro
E o leme sem marinheiro.
O céu parece defronte!
No espelho a imagem,
É você se avelhantando.
Naquele corpo estranho,
Matéria sempre oxidando
E o disparate da vida,
A dor na alma sentida,
É que o corpo envelhece,
Mas a eterna criança
Conserva a esperança,
Vivendo, não se esmorece.
Em total catalepsia,
Com sua plena consciência,
Olhando pelas janelas
Diante dessa incoerência,
A figura envelhecida,
No espelho, desvanecida,
Insiste em ser você.
E o espírito imortal,
Permanece jovial,
Escravo, sempre a mercê.
As pessoas ao redor
Augurando como corvo,
Querem livrar do entulho,
Do improfícuo estorvo.
O espírito amordaçado
Oculto e agrilhoado,
Num paradoxo da vida:
Se, lá dentro ele evolui,
La fora o corpo dilui
Corrompendo a guarida.
No interior da carcaça
Um sábio em letargia
Tem que dormir acordado
Pra cumprir a profecia.
Sufocando seu desejo,
Vivendo só de sobejo,
Engolindo muito sapo,
Achando na solidão
Abrigo e proteção,
Sentindo-se como trapo.
Nessa furna de dois olhos
Contemplando a beleza,
Se cumpre a penitência,
A sanção da natureza:
Medida de repressão,
Visando a evolução,
Da sua própria essência,
Uma questão do espírito
Que lhe parece esquisito,
Sem você ter consciência!
Mesmo assim, você deseja
Tudo o que não pode ter.
Seus sonhos são impossíveis,
E você tenta esquecer!
Lá dentro, puro sadismo,
Lá fora, só masoquismo.
O belo fica mais belo
E a beleza é negada.
A velhice é descartada,
Para um mundo paralelo.
É realmente sufocante
O tédio da existência.
O espírito é cruel,
A vida é incoerência,
Uma absurda imposição,
Com arbítrio por opção:
— Ou a vida ou a morte —
Se a vida, pegue a enxada
E, se a morte, resta à espada.
É um jogo de esporte.
As águas correm pro mar
Por força da natureza.
Nada impede o seu caminho,
Não importa a profundeza.
Voando em nuvens no céu,
Correndo na terra ao léu
Adentrando pelas veias,
Nas artérias da terra,
Pelas estrias da serra,
Descendo sem quaisquer peias.
O planeta deflorado,
Conseqüência do progresso,
Pra salvar a humanidade
É o que diz qualquer congresso.
Quando a terra se queimar
E o verde se acabar,
Tudo estará terminado,
Vamos ser anjos sem asas,
Viver no inferno sem casas,
Com o Diabo malvado.
Extinção lá no inferno,
Esse risco, ninguém corre.
O céu já foi destruído
Por culpa de um grande porre:
Quando os anjos rebelados
Foram então engabelados,
Pela farsa da ambição,
O céu foi todo manchado.
O Diabo já alertado,
Cuidou da preservação.
Miríades exiladas
Do seio da divindade,
São sementes no astral
Que nascem na humanidade.
Infiltram-se na matéria,
Ocultando-se na artéria
Do humano sem juízo.
Usando desse instrumento,
Através do nascimento,
Retornar ao paraíso.
Toda manhã, de manhã
Embora o céu bem sereno
Sempre creio que o dia
Será de sol mais ameno.
Mas se pinta um temporal
Como guerra angelical,
E a procela brame forte
Temo que um raio certeiro
Atinja meu corpo inteiro
Rezo então, para ter sorte.
MINHAS Poesias,Poemas,Crônicas,Contos,Ou coisas parecidas. Se eu não conto, Mesmo em conto,Essas coisas,Serão esquecidas. Meu Cordel, literatura, versos e métrica.
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