terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Carta do escritor "Medalha de Ouro" do Clube do Livro para o Cordelista Josué Araujo

São Paulo, 04 de setembro de 2010.

Caro Josué G. de Araújo

Com a Literatura de Cordel você encontrou realmente o seu caminho criativo em O Mistério da Pele da Novilha você reafirma e mantém o nível alcançado em seu folheto anterior, O Coronel Avarento, tanto na temática quanto na preocupação formal. Nos dois você soube se utilizar de certos mitos para construir o seu universo ficcional, dando-lhe assim um significado maior, sem a necessidade dês se deter em explicações sobre os mecanismos predominantes das relações humanas.
No comentário que fiz sobre seu primeiro folheto, apontei o fato de você fazer do Coronel Avarento um verdadeiro judeu errante, condenado a viver eternamente na materialidade para os seus crimes. Não por coincidência, neste seu segundo trabalho o personagem Severino tem a mesma sina, só que lhe é dada a possibilidade de se redimir através de uma troca de solidariedade bem cristã. Meus parabéns pela coerência formal e de conteúdo. Se você havia usado bem as estrofes de sete versos, agora o faz bem com as de seis versos. Está se tornando um mestre na arte de narrar versejando. Persista.
Sem querer ser chato, relembro que, antes de você, alguém já disse ser o cordel “um estilo dês vida”. Em 1972, na “Revista Brasileira de Folclore”, Rio de Janeiro, jan/fev, Mark J. Curran disse: “Quando uma pessoa lê folhetos, da Literatura dês Cordel, faz muito mais do que apreciar a poesia do povo. O leitor pode perceber um estilo de vida visto não só nos versos, mas também na apresentação total do poeta popular, sua ideologia e sua personalidade como poeta e comentador da vida do povo”. Esse comentário foi reproduzido numa antologia organizada por José de Ribamar Lopes, Literatura de Cordel, 2ª edição de 1983, nas páginas 673 e 677.De onde se vê a autenticidade de sua dedicação ao Cordel, como gosta de dizer.Muito mais eu teria a comentar sobre seus dois folhetos no gênero, mas fico por aqui. Tenho certeza que os especialistas terão muito mais a dizer sobre eles, pois estão a merecer.
Receba o abraço fraterno do

Benedicto Luz e Silva

No centro da São Paulo, no edifício da Paz, eu subo pelo elevador de porta sanfonada de antigamente, até o segundo andar. Por um longo corredor em forma "L", eu percorro alguns segundos ansioso e após passar por várias portas fechadas, bato na penúltima porta. Meia porta se abre porque a sala é pequena e repleta de livros. Entre eles, esta o mestre Benedicto com os seus cabelos branquinhos. É sempre com alegria que me recebe. Começa ai o dialogo literário. Falamos da vida de Machado de Assis, Mário de Andrade, do amigo pessoal do mestre - Jorge Amado e outros. Brasileiros ou internacionais, não importa, o mestre tem intimidades com todos eles. brigamos muito e ele sempre espera que eu não volte mais por causa da suas rebeldia ou discórdia. Eu sempre volto e sempre repito: Mestre, eu voltarei sempre, não importa as nossas desavenças literárias. O expediente do Mestre termina ao meio dia. Depois de alimentar a alma, o Mestre volta para sua casa.

Eu o conheci por indicação de um conhecido dele. Alguém me disse que havia um escritor solitário em uma sala do edifício. Eu exigi que ele me levasse até a sala e me apresentei ao escritor. Começou assim a nossa amizade. Descobri também que ele era conhecido de um dos meus concunhados de Natal. Nem sei o quanto aprendi com ele...

Josué.

Escritor e Editor:Benedicto Luz e Silva

1º lugar (Medalha de Ouro) no segundo concurso para a outorga do "PRÊMIO NACONAL CLUBE DO LIVRO'
Com o livro; "Um corpo na chuva" - Romance com 150 Pg.
Editora Clube do Livro Ltda - 1972.

Publicou mais des 500 títulos de vários autores pela sua editora pessoal.

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